6 de abril de 2015

Exército espanhol acusa artilharia israelita de alvejar forças da ONU

O morteiro que matou o cabo espanhol Francisco Javier Soria Toledo, no sul do Líbano não foi um tiro isolado.

Um relatório reservado elaborado pelos chefes de Estado Maior, a que o jornal El País teve acesso, descreve que os companheiros do capacete azul falecido junto da fronteira com o Líbano, não confirmam o relatório publicado pelas Nações Unidas, que dão a morte do soldado como um morteiro proveniente da artilharia do Hezbollah.

Neste relatório classificado como confidencial, os companheiros descrevem que as balas provinham das forças israelitas e começaram por cair longe do destacamento da ONU, mas, com o passar do tempo, novos morteiros surgiram e foram caindo mais perto da torre de vigia, onde o militar se encontrava, até o atingir mortalmente.

O jornal espanhol El País mostra na sua edição online de hoje, o relato detalhado e cronológico de como os outros membros da ONU, destacados com o soldado espanhol, viram e registaram os acontecimentos.

A descrição dos eventos são relatados com tanta exactidão que é quase perceptível visualizar o que se terá passado no dia 28 de Janeiro deste ano na fronteira entre o Líbano e Israel.

Tudo terá começado perto das 10 da manhã, quando as forças de Israel atacaram um comboio terrestre do Hezbollah ao longo dos Montes Golã.

Perto das 11:50, o ataque das forças israelitas, segundo a descrição feita neste relatório, começaram a cair perto de Majidiye. Algumas são descritas como bombas de fragmentação.

"Não há dúvida de que explodem no ar, a 50 ou 100 metros de altura. Já caíram seis ou oito. Também há projécteis a cair em forma de 'cacho' entre as cidades de Slaiyeb e Rehana Berry; alguns dos bombardeamentos foram ouvidos de forma mais intensa do que os outros, isto porque o impacto era diferente ", disse Poyato, um dos companheiros de Francisco Soria, também este no local onde decorria a ofensiva.

As bombas de fragmentação são proibidas por tratado internacional, porque elas agem como disseminadores de minas terrestres, mas Israel nunca assinou um tratado de não utilização deste tipo de armamento, tendo mesmo feito uso deste material bélico em 2006, no Líbano.

O relato continua e por volta do meio-dia, o Sargento Julio Javier García fica na rampa de entrada para o destacamento, e informa soldado Poyato que deve relatar o que acontece na estrada. Grupos de “conchas” caíam a cerca de 500 metros ao norte, mas depois de três ou quatro explosões as bombas são corrigidas na trajectória.

O capitão ordena então para recuar para a base, sem perder de vista a estrada.

"Sem dúvida, são bombas de fragmentação. Elas explodem entre os 50 e os 100 metros de altura e deixam cair a carga", comenta.

O ataque continua e cerca das 12.24, "de repente", lembra o soldado Poyato, ouviu "um silvo alto, tão perto, tão perto", que lhe causou "um zumbido nos ouvidos", e, instintivamente, saltou para dentro do carro, tremendo de onda de choque, seguido de uma explosão.

Passaram-se alguns segundos, o ruído parou de se ouvir fora. A torre de vigia tinha sido atingida e um companheiro gritou: "Nós atribuímos-lhe a torre!". Palavras ditas em pânico pelo soldado Pablo Soriano, que tinha saído de uma guarita a cerca de 50 metros da torre de vigia.

De imediato, o capitão ordenou que todos entrassem nos "bunkers".

Pouco depois do meio-dia e meia, o sargento Carmona sai do bunker e é o primeiro a entrar na torre. Enquanto subia a escada gritava "Soria! Soria!”, mas ninguém respondia. A escotilha no terceiro andar estava coberta com escombros. Apressou-se a limpar a zona e deu de caras com o rosto do soldado Soria.

O capitão Pazo olha então para fora da escotilha e vê Carmona a tomar o pulso do companheiro caído no chão. Tenta uma reanimação e só então se dá conta da gravidade dos ferimentos do elemento que encontrou. Ele vira-se para o capitão e dá notícias: Soria morreu.

O relato continua, descrevendo a continuação do ataque e o que tiveram que fazer para sobreviver.

Israel não nega a utilização de munições de 155 mm, durante o ataque naquele dia, que matou o capacete azul espanhol e também se faz referência que o Hezbollah não tem aquele tipo de armas.

No entanto Israel nega que atacou intencionalmente o posto da ONU próxima de Ghayar , alegando que este ataque foi em legitima defesa.

As forças militares israelitas alegam que “se uma das suas balas atingiu a posição UNIFIL 28/04 certamente foi devido a um erro, porque dizem que estavam a ser atacados pela milícia xiita libanesa que estava a disparar foguetes contra o seu território”.

O relatório da ONU reconhece que às 11.39, do dia 28 de Janeiro de 2015, Israel advertiu que os elementos da força de paz das Nações Unidas, deveriam permanecer nas posições, mas quando questionados sobre as acções bélicas naquela zona, as forças israelitas não vacilaram: “Entre 11:48 e 13:43, o exército israelita disparou sobre a zona em questão, 118 projécteis de artilharia, 90 morteiros e cinco projecteis anti-tanque".

O soldado espanhol Francisco Javier Soria Toledo, tinha 36 anos, era casado e vivia em Málaga, Espanha. (RTP)

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